Num mundo cada vez mais atento às questões de sustentabilidade, um relato corporativo efetivo sobre critérios ESG passou a ser um elemento-chave. O Global Corporate Reporting and Institutional Investor Survey divulgado pela EY revela que há uma lacuna significativa entre o que as empresas estão a reportar e o que os investidores querem saber.
Baseado numa análise sobre o reporte de ESG, o Global Corporate Reporting and Institutional Investor Survey, que auscultou 1.040 líderes financeiros de empresas e 320 investidores seniores, concluiu que 4 em cada 5 investidores consideram que as empresas falham em articular adequadamente a sustentabilidade nos investimentos de longo prazo, o que dificulta a sua avaliação. Mais ainda, para 73% dos investidores, as empresas falharam no desenvolvimento de relatórios que englobassem tanto as divulgações financeiras como as de ESG, de forma a facilitarem a tomada de decisão. No entanto, 53% das empresas sentem-se de tal forma pressionadas em relação aos ganhos de curto prazo por parte dos investidores, que põem em causa investimentos de longo prazo em sustentabilidade.
Além disso, o estudo expõe questões relativas à credibilidade dos relatórios ESG. Cerca de 76% dos investidores considera que as empresas são altamente seletivas na informação que disponibilizam, o que aumenta o risco da ocorrência de fenómenos como o greenwashing e o green-wishing. Em concreto, 88% dos investidores considera que as empresas não irão divulgar todas as informações necessárias a menos que sejam obrigadas através da regulação.
Apesar deste desalinhamento, verifica-se um aumento do interesse dos investidores em dados relacionados com a temática ESG. A última edição do estudo (2022), mostra que 74% realizam uma análise estruturada a estas informações, um peso muito superior aos 32% registados em 2018..
No entanto, as empresas ainda enfrentam desafios para implementar com eficiência o reporte de ESG. A ausência de clareza sobre as informações consideradas relevantes para os investidores, e a insuficiência de recursos financeiros e humanos adequados são apontados como os principais obstáculos para a produção de relatórios fiáveis.
Para os investidores existem três prioridades que as empresas devem adotar para reduzir o gap existente:
- Serem proativas e criarem mais valor financeiro ao focarem-se no que é material para a organização, considerando os tópicos que são realmente relevantes para os stakeholders;
- Definir estruturas de governança e de responsabilização para impulsionar resultados;
- Adotar uma abordagem mais ambiciosa e disruptiva para alcançar resultados, reportar e garantir a precisão dos dados de sustentabilidade.
Os investidores estão expectantes que as empresas demonstrem o seu impacto em diferentes grupos. 82% dos investidores afirmaram que, “além de relatar questões de ESG que são materiais para os investidores e analistas, as organizações precisam ainda de envolver vários stakeholders, como governos, consumidores, trabalhadores e comunidades locais”.
Os investidores reconhecem que uma governança corporativa robusta é crucial para que as empresas possam passar de declarações de propósito para realmente incorporarem a sustentabilidade nas suas estratégias e tomadas de decisão. Apesar das diversas estruturas possíveis, os conselhos de administração devem assegurar um papel crucial na sustentabilidade através de: i) desafiar a gestão sobre seus planos de sustentabilidade (sendo necessário que os membros dos Conselhos de Administração robusteçam o seu conhecimento sobre o tema); ii) supervisionar a execução e o progresso em relação aos compromissos e iii) interagir com os investidores sobre os planos de sustentabilidade e o progresso alcançado.
Em relação ao reporte dos dados financeiros, os novos quadros regulamentares sobre a sustentabilidade devem ser vistos como uma oportunidade que rapidamente evoluirá para uma “urgência”. As empresas devem adiantar-se em relação aos padrões emergentes, em vez de esperar que o quadro final seja revelado. O objetivo das empresas não deve ser apenas realizar melhorias incrementais, mas sim assumir a dianteira para garantir um alinhamento com as exigências dos investidores / financiadores.