O Banco Central Europeu (BCE) e o Conselho Europeu de Risco Sistémico (ESRB) publicaram, em julho de 2022, um relatório sobre como os riscos climáticos podem afetar o setor financeiro europeu e a sua estabilidade. Este Relatório surge após a divulgação do BCE dos resultados dos testes de esforço climático, que indicou que ainda há trabalho a fazer na maioria dos bancos por forma a medir e gerir os riscos relacionados com o clima e identificar potenciais perdas em alguns cenários. No início de julho, o BCE anunciou um conjunto de medidas para incorporar o tema das alterações climáticas no seu quadro de política monetária e apoiar a transição verde da economia. O desafio macroprudencial das alterações climáticas demonstra como as alterações climáticas não são apenas sentidas no longo prazo, mas podem ter efeitos e riscos no curto prazo para empresas, bancos, famílias e governos.
O relatório está dividido em 3 seções principais:
- Dados e mensuração – descreve um conjunto de indicadores de riscos relacionados com o clima que são relevantes para a estabilidade financeira.
- Testes de esforço climático e análise de cenários – detalha o progresso feito no assessment das instituições aos efeitos das alterações climáticas.
- Considerações sobre políticas – apresenta o caso da política macroprudencial e como as evidências podem sustentar uma resposta macroprudencial ao risco.
Entre as principais conclusões do relatório está a relação dos riscos da transição climática e questões relacionadas com riscos físicos, identificando vários amplificadores de risco climático em todo o sistema financeiro.
Exemplo: o aumento dos preços do carbono pode aumentar a probabilidade de default de uma empresa, aumentando os riscos de transição para bancos e empresas. Da mesma forma, choques climáticos causados por desastres naturais, como stress hídrico ou incêndios florestais, podem causar uma reavaliação da precificação do risco climático, desencadeando uma dinâmica de fire sale com instituições financeiras a liquidarem títulos a preços mais baixos. O relatório refere ainda que os riscos climáticos surgem concentrados, uma vez que mais de 20% das perdas potenciais se encontram nas participações de 5% dos bancos da zona euro.
A análise de cenários do relatório sugere que o impacto dos riscos climáticos para o sistema financeiro começaria, muito provavelmente, com o risco de mercado, com choques climáticos que afetam as avaliações de portfólio de fundos de investimento, fundos de pensão e seguradoras, e depois estender-se-ia a perdas de crédito para bancos, à medida que as empresas entrem em default.
Aplicando uma perspetiva sistémica, as políticas macroprudenciais teriam como objetivo abordar o risco de decisões coletivas de empréstimos por instituições financeiras e ajudar a fortalecer a resiliência do sistema financeiro a perdas quando se materializarem, com a identificação de medidas como amortecedores de risco sistémico ou limites de concentração (limita a quantidade de exposição que um credor tem a um único devedor).
A equipa responsável pelo relatório, vai agora concentrar-se no desenvolvimento de uma estrutura permanente de supervisão da estabilidade financeira para apoiar a discussão de políticas macroprudenciais.
Artigo por equipa PwC Portugal