A associação das empresas ao aparecimento de problemas de foro social, económico e ambiental tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Consequentemente, tem-se verificado um crescente desenvolvimento de políticas que visam tornar as práticas empresariais mais sustentáveis e diminuir a pegada ambiental. Torna-se, assim, imperativo que as empresas abandonem as estratégias baseadas numa lógica de curto prazo, adotando, pelo contrário, uma visão de criação de valor centrada no longo prazo. Esta visão deve incluir, além do lucro necessário à viabilidade do negócio, a contribuição para as metas de sustentabilidade provenientes da auscultação dos stakeholders, incluindo consumidores, clientes, comunidade e decisores políticos.
Segundo estimativas da EY, atualmente, apenas 50% do valor gerado pelas empresas é refletido nos respetivos balanços, sendo que, em 1975, este valor correspondia a 80%. Torna-se cada vez mais importante – e frequentemente exigido por CEOs, investidores e consumidores – a criação de mecanismos que permitam às empresas medir o valor não reportado. No EY Global Capital Confidence Barometer, um estudo conduzido pela EY, 97% dos CEO afirmam que as mudanças ambientais e na sociedade têm um impacto crítico nas suas empresas. Por esse motivo, têm sido desenvolvidas abordagens para identificar um conjunto universal de medidas para uniformizar o reporte ESG em diferentes países e setores.
Em 2018, foi publicado o relatório do Embankment Project for Inclusive Capitalism (EPIC), um projeto que envolveu mais de 30 empresas internacionais e reuniu CEO, CFO, CIO, assim como especialistas em vários setores. Teve como intuito desenvolver novas métricas para avaliar o long-term value nas empresas, agrupadas em três categorias:
- Valor para os Consumidores – refere-se aos consumidores da empresa e as métricas incluem a fidelidade e satisfação do cliente, a proporção de vendas proveniente de produtos e serviços repetidos ou recorrentes e a reputação da marca.
- Valor humano – focam-se na força de trabalho da empresa, incluindo o número de funcionários, a retenção de talento, a satisfação dos funcionários, as suas competências e a cultura e propósito da empresa.
- Valor para a sociedade – avalia o valor criado através das relações entre a empresa e os seus stakeholders externos, o que inclui o seu impacto social, ambiental e económico em toda a cadeia de valor. Estas métricas podem abranger a conformidade com as leis e regulamentos vigentes e a respetiva contribuição para a comunidade, assim como a utilização de recursos, emissões de carbono, eficiência energética e o seu impacto na biodiversidade.
Em 2020, o Conselho Internacional de Negócios do Fórum Económico Mundial, em colaboração com as Big4 (Deloitte, EY, PWC e KPMG), desenvolveu um white-paper com uma proposta com um conjunto de métricas universais e divulgáveis, que são a base para relatórios padronizados e transparentes sobre a criação de long-term value assente em quatro pilares:
- Princípios de governance – divulgação de atividades empresariais que impactam os negócios e a sociedade, incluindo a estrutura de liderança da empresa e o cumprimento das leis e normas éticas.
- Planeta – divulgação de métricas relacionadas com o meio ambiente, incluindo emissões de gases de efeito estufa, pegada carbónica, gestão de recursos naturais e impacto na biodiversidade.
- Pessoas – divulgação do impacto direto e indireto da empresa nas pessoas, nomeadamente trabalhadores, fornecedores, clientes ou comunidades locais, estando incluídas a diversidade de género, o salário médio, a saúde e segurança e a satisfação do cliente.
- Prosperidade – divulgação do impacto económico direto e indireto da empresa, incluindo contribuições fiscais, investimento em I&D e criação e distribuição de valor económico.
Embora existam cada vez mais empresas a adotar práticas de responsabilidade social e ambiental e a reportá-las de forma voluntária para se diferenciarem e serem valorizadas junto dos stakeholders, incluindo investidores e financiadores, as exigências são crescentes e a incorporação de indicadores não financeiros na análise de valor é cada vez mais uma constante. Em conclusão, para garantir a resiliência e competitividade, torna-se assim, cada vez mais relevante incorporar o long-term value em todas as decisões estratégicas das empresas.
Artigo por equipa EY Portugal