Mitigação das alterações climáticas | O papel do financiamento climático (Climate Finance)
O terceiro e último Relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPPC) do Grupo de Trabalho III (elaborado por 278 cientistas de 65 países) faz uma avaliação do progresso do cumprimento dos objetivos de mitigação das alterações climáticas e analisa as fontes de emissões globais de Gases com Efeito de Estufa (GEE). Além disso, detalha os desenvolvimentos nos esforços de redução de emissões por forma a avaliar o impacto dos compromissos nacionais relativamente às metas de mitigação de emissões.
Para António Guterres, secretário-geral da ONU, este relatório é “uma longa enumeração de promessas climáticas não cumpridas. É um arquivo de vergonha, que cataloga as promessas vazias que nos colocam no caminho para um mundo inabitável”.
O relatório concluiu que se as atuais trajetórias de emissões se mantiverem, colocam o planeta no caminho de um aquecimento de cerca de 3,2ºC. E mesmo se os atuais compromissos climáticos nacionais forem cumpridos, não serão suficientes para limitar o aquecimento a 1,5ºC, colocando o mundo no caminho para um aumento de pelo menos 2,2ºC.
O relatório concluiu também, que o investimento global na transição para um mundo low-carbon é cerca de seis vezes menor do que o necessário e que este gap no investimento é reflexo de uma má alocação de capital. Além disso, avalia como o mercado e as ferramentas regulatórias podem ajudar a promover a inovação e a competição tecnológica, duas estratégias para aumentar o incentivo para a redução de emissões. Remover os subsídios aos combustíveis fósseis e introduzir um carbon pricing direcionaria mais investimentos para soluções renováveis, por exemplo.
O financiamento climático (financiamento local, nacional ou transnacional – proveniente de fontes públicas, privadas e alternativas de financiamento – que procura apoiar ações de mitigação e adaptação às alterações climáticas) é fundamental para alcançar as metas climáticas, segundo o relatório. No entanto, a implementação lenta dos compromissos por parte dos países e stakeholders do setor financeiro não reflete a necessidade de ação climática urgente.
Os gaps no investimento são visíveis em todos os setores e regiões. Os investimentos “verdes” necessitam de aumentar 2 a 5 vezes na geração de eletricidade, 2 a 7 vezes em eficiência energética, 7 a 8 vezes no setor dos transportes e 10 a 29 vezes na agricultura, silvicultura e outros usos da terra. Os fluxos financeiros destinados à mitigação são ainda muito baixos em todos os países, especialmente nas economias em desenvolvimento.
O financiamento climático assume assim extrema importância no caminho para a alcançar os objetivos do Acordo de Paris. Não só no setor privado, como no setor público, mas especialmente através da cooperação entre ambos. Uma intensificação de financiamento público na próxima década é fundamental para ajudar a redirecionar os mercados de capitais e colmatar as necessidades de investimento. O papel do setor público passa não só por subsídios diretos e indiretos, mas também pelo tratamento de falhas de mercado, barreiras, disponibilização de informação e partilha de riscos, que pode incentivar uma mobilização mais eficiente do financiamento do setor privado, de acordo com o relatório.
“We must be clear that decisive action on climate is not a ‘cost’: it is an investment, not just in our future, but in our survival. Such investment will provide a buoyant green jobs market as well as protecting us against damage from extreme weather and the need to adapt to a drastically altered climate: it would be the greatest cost-saving of human history.”
Steve Trent, CEO of the London-based Environmental Justice Foundation
Artigo produzido por PwC Portugal