Out 2024
Financiamento privado associado a projetos de infraestrutura sustentável

Atualmente, cerca de 150 países estão comprometidos a alcançar a neutralidade de carbono até 2050, cobrindo aproximadamente 88% das emissões globais e 92% do PIB global ajustado pela paridade de poder de compra. O objetivo é limitar o aumento da temperatura média a um máximo de dois graus (relativamente aos níveis pré-industriais) nas próximas décadas, em linha com as metas do Acordo de Paris de 2015 e apoiadas pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Este nível de compromisso implicou uma mudança da agenda política de desenvolvimento económico para desenvolvimento sustentável, abrangendo dimensões sociais, económicas e ambientais. O desenvolvimento passou a ser medido não apenas pelo bem-estar económico imediato das comunidades, mas também por uma garantia sustentável do ponto de vista ambiental e social.

As infraestruturas desempenham um papel crucial nesse cenário de transição para um futuro sustentável. Os projetos de infraestruturas sustentáveis são planeados, projetados, construídos, operados e desativados de uma forma que garanta a sustentabilidade económica e financeira, social, ambiental (incluindo a resiliência climática) e institucional ao longo de todo o ciclo de vida da infraestrutura.

Dessa forma, projetos de infraestruturas sustentáveis são essenciais para apoiar o desenvolvimento económico contínuo, enquanto minimizam o impacto ambiental e promovem a inclusão social. Investimentos em mobilidade verde, energia renovável, gestão eficiente de resíduos e construção sustentável são exemplos de iniciativas que não só reduzem as emissões de carbono, mas também criam empregos, melhoram a qualidade de vida e estimulam as economias locais.

É comum a associação do financiamento sustentável com a dependência contínua de apoio financeiro, especialmente devido aos elevados custos iniciais, em especial quando falamos de investimento em infraestrutura. No entanto, o objetivo é transitar do apoio inicial para modelos de negócio robustos e autossustentáveis. A transição de projetos-piloto subsidiados para empreendimentos comercialmente viáveis é crucial, garantindo que estas iniciativas possam subsistir por si próprias e contribuir para a economia sem apoios contínuos. Não se trata de um ato de caridade, mas sim de uma oportunidade em crescimento;  os investidores estão cada vez mais conscientes das potencialidades de crescimento inerente aos projetos de infraestruturas sustentáveis e da inerente criação de valor a longo prazo.

Mecanismos de financiamento, como green bonds (obrigações verdes), investimentos de impacto ou parcerias público-privadas, têm como finalidade alinhar os objetivos financeiros com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Esses mecanismos visam atrair investimentos de diversos stakeholders, incluindo investidores institucionais, bancos de desenvolvimento e organizações filantrópicas,  canalizando-os para projetos que promovem a sustentabilidade ambiental, social e económica, contribuindo assim para a mitigação das alterações climáticas e outros desafios globais.

A aplicação de green bonds, por exemplo, tem vindo a ganhar tração nos últimos anos em Portugal. Esses títulos de dívida, similares às obrigações tradicionais funcionam como empréstimos. Os emissores angariam fundos junto de investidores, comprometendo-se a restituir a quantia na maturidade do contrato, e a pagar juros periódicos até à mesma data . A diferença crucial em relação às obrigações tradicionais está na aplicação dos fundos: os recursos angariados devem ser destinados a financiar ou re-financiar projetos ou ativos que promovam o benefícios ambientais. Em Portugal, a emissão de green bonds tem vindo a aumentar, e exemplo disso tem sido as emissões realizadas pela EDP no valor de centenas de milhões de euros através do instrumento de dívida, destinados ao investimento em instalações de produção de energia renovável (eólica e solar), mas também com as emissões pela Greenvolt, REN, entre outros, que estão a ser utilizadas para financiar ou re-financiar cada vez mais projetos de infraestrutura de energia renovável e eficiência energética.

O financiamento sustentável para infraestruturas representa uma convergência entre os interesses financeiros, e os interesses da sociedade, do meio ambiente e da economia como um todo. Não só promove práticas empresariais responsáveis e inovadoras, mas também oferece retornos atraentes aos investidores, demonstrando que os objetivos de sustentabilidade e rentabilidade podem ser complementares.