Uma das condições fundamentais à implementação de projetos de investimento é o financiamento. Esta é, com frequência, uma barreira difícil de ultrapassar e que tende a ser tanto mais desafiante quanto maior o grau de inovação dos projetos.
Um erro frequente que leva, muitas vezes, ao insucesso nos processos de negociação de projetos com financiadores é a falta de preparação das empresas promotoras, especialmente naquilo que se refere à:
- Maturidade das ideias;
- Identificação das fontes de valor associadas ao projeto;
- Análise dos riscos e ameaças;
- Detalhe sobre o roadmap de implementação.
A insuficiente definição estratégica é especialmente evidente em projetos que envolvem elementos difíceis de quantificar, como é o caso das externalidades positivas relacionadas com questões ambientais.
Nos temas relacionados com a sustentabilidade ambiental e social, uma das ferramentas que pode ser utilizada para a priorização de projetos é a matriz de materialidade, por ajudar à reflexão sobre o impacto que as várias temáticas têm no negócio das empresas e nos seus stakeholders, oferecendo uma representação gráfica simples e intuitiva para comunicação.
A matriz de materialidade envolve as seguintes etapas: (i) identificação dos temas potencialmente materiais; (ii) priorização dos temas, recorrendo a processos de auscultação da gestão e dos stakeholders; (iii) tratamento dos resultados e elaboração da matriz. O BCSD Portugal publicou, em 2022, o Guia de Apoio ao Apuramento de Materialidade nas Empresas – Uma Abordagem de Dupla Materialidade que apresenta, de forma intuitiva, os conceitos, o processo de apuramento e algumas recomendações para simplificar uma análise que é habitualmente complexa, bem como os benefícios das empresas considerarem uma abordagem de dupla materialidade (materialidade de impacto e materialidade financeira).
Após o reconhecimento das temáticas mais relevantes (ou críticas) para a criação de valor de longo prazo, as empresas devem analisar criticamente as competências e recursos que têm à sua disposição e, sobretudo, aqueles de que necessitam para endereçar os problemas críticos identificados. Por outras palavras, realizar uma gap analysis ou de ESG readiness.
A crescente importância da temática da sustentabilidade tem motivado a construção de inúmeras ferramentas de avaliação do desempenho das empresas nas várias vertentes do ESG, como por exemplo, as ferramentas de diagnóstico de descarbonização / transição energética e de economia circular, promovidas pela AEP – Associação Empresarial de Portugal.
A gap analysis permite identificar as áreas de intervenção prioritárias, orientar a pesquisa de soluções e mobilizar os recursos necessários para formar o(s) projeto(s) de investimento ou plano(s) de ação de transformação organizacional. Neste momento, as empresas já deverão dispor dos elementos que as ajudarão, por exemplo, na pesquisa de soluções, em conversas com potenciais fornecedores de tecnologia ou na definição de perfis de talento a contratar, construindo assim um plano de investimento adequado à resolução dos gaps identificados.
Na sequência deste processo, considerando o leque de opções de investimento disponíveis, a gestão de topo terá de fazer a sua avaliação, designadamente a análise de riscos associados ao investimento, a análise de viabilidade económico-financeira e as necessidades de financiamento, procurando quantificar as suas valias ambientais e fazendo análises de sensibilidade aos indicadores de rentabilidade do(s) projeto(s) e/ou construção de cenários.
Esta não é uma fórmula de sucesso garantido, até porque a qualidade de todo o processo de reflexão e definição estratégica depende de vários fatores, mas é uma forma de robustecer a credibilidade da empresa no momento da abordagem aos financiadores.
Artigo por equipa EY Portugal